O livro “A via crucis do corpo (1974) é um coletânea composta por treze contos que estão sobre a alegoria da temática do sexo. Essa temática na obra clariceana é aplicada ao corpo feminino e também há na obra questões relacionada a linguagem que aparece, embora de forma sútil.
E como
sabemos nada em Clarice é somente o que aparece escrito. Como podemos perceber na
“Explicação”, que não explica quase nada.
Mas é em
“Miss Algrave” que as questões da repressão, da moralidade, da falta de conhecimento
e de consciência do próprio corpo fica mais exposta. Pois é: Miss Algrave se
achava perfeita, e desse pedestal julgava todos que simplesmente viviam, seus
amores e desamores, esse era o seu disfarce para esconder a sua solidão “que a
esmagava terrivelmente”, mas depois de ser amada por Ixtlan, um ser de saturno,
descobriu-se pessoa e passou ama-se sem reprimir os apelos normais de seu corpo
feminino de mulher realizada e percebeu que amar é bom e sexo também.
No
conto “O corpo” o grotesco aparece de forma mais explícita, o conto conta a
história de Xavier e suas duas esposas: Beatriz e Carmen. Essas descobrem que
Xavier havia arrumado uma terceira mulher, e elas não aceitam e planejam e
excutam Xavier. Mas o motivo não era a traição é porque a duas bastavam a si mesmo.
E não precisavam mais um macho que traiu, por mais de uma vez o pacto que havia
entre os três.
A
presença do esvaziamento da linguagem e dos bastidores da literatura também
fazem-se presentes. Nos contos que formam “A via crucis do corpo” é recorrente a
interrupção da narradora para contar algo ou refletir sobre o ato de escrever e
para quem e porque escrevemos.
Para ilustrar
essa percepção no conto “Por enquanto” a narradora fala que “os dedos doem de
tanto bater na máquina”, e neste mesmo conto, no final, ela encerra a narrativa
dizendo “a gente morre as vezes”.
Em “Antes
da ponte Rio-Niterói”, a narradora depois falar várias fatos, sobre as histórias,
que segundo a mesma aconteceram antes da construção da referida ponte.
A narrativa é assim encerrada “O que fazer dessa história que se passou quando a ponte Rio-Niterói não passava de um sonho? Também não sei, dou-a de presente a quem quiser, pois estou enjoada dela. Demais até. Às vezes me dá enjoo de gente. Depois passa e fico de novo toda curiosa e atenta. E é só.”
Clarice
afirmou em entrevista que quando terminava uma história ficava oca, então
morria para nascer de novo, esse esvaziamento era necessário para começar novas
narrativas.
Essa
quebradura também acontece de forma flagrante no conto “Dia após dia”, a narradora
para a narrativa para questionar “por que as pessoas dão tanta importância a
literatura”, ai, fala de como não gosta que festejem seu nome, sua obra, seus
livros, que não vai a jantares em sua homenagem....
E para
concluir, você que é leitor de Clarice Lispector, sabe que a maioria das narrativas
encerram-se sem que esta prepare os leitores para a conclusão da história. Pois,
é isso acontece em todos os treze contos que compõem esta obra clareceana “A via
crucis do corpo”.