10/09/23

Úrsula (1859), de Maria Firmina dos Reis

     Maria Firmina dos Reis (1822-1917) escritora, musicista, poeta, jornalista, professora

  • Século XIX;
  • Úrsula foi publicado em 1859, sob pseudônimo “Uma maranhense”,
  • Ficou esquecido e redescoberto em 1960 (século XX);
  • Primeiro livro (no Brasil) abolicionista, e possivelmente o primeiro livro abolicionista da Língua Portuguesa, pois, as primeiras notas sobre o abolicionismo datam de 1960.
  • Romance romântico (1836-1881).
   Eixo 1: Romântico: idealização da natureza, paisagens e amor, amor impossível. Úrsula, Tancredo e Fernando B;
  • Narrador: terceira pessoa (onisciente);
  • Tempo e espaço: Não é definido. Maria Firmina dos Reis vale-se de recursos linguísticos (reticências) para ocultar de quais províncias, de quais personagens (reais) realmente a autora está denunciado. Exemplo Luiza B, Fernando P, Convento de ***.
  • Úrsula: branca, típica personagem romântica, de família rica, mas que perdeu tudo, restando-lhe somente um casebre, onde mora com a mãe Luíza B;
  • Tancredo: branco, rico, honrado, sonhador, romântico e com alguns problemas familiares;
  • Túlio: negro (afro-brasileiro), era filho de africana que foi vítima da violência escravocrata, é criado por Susana;
  • Susana: negra, africana, forte, guerreira, resistente. Sua principal arma de resistência é a memória. Susana é a protagonista do capítulo 9, o mais bonito; Susana conta a sua história. O único momento do romance que a narração passa a ser em primeira pessoa. Podemos afirmar que Susana é a própria personificação de Maria Firmina do Reis;
  • Fernando P: cruel, sanguinário apaixona-se e passa a nutri uma obsessão por Úrsula;
  • Luiza B: mãe de Úrsula, sofreu muito no casamento, doente, passa anos acamada é cuidada pela filha Úrsula;
  • Paulo B: marido de Luiza B e pai de Úrsula;
  • Antero: é um escravo que o alcoolismo correu suas forças, sua resistência. É o oposto de Susana.

Dividido em dois eixos:

 Eixo 2: Negro (escravo): Túlio (afro-brasileiro), Susana (africana), ao percorrer as páginas de Úrsula, percebemos que o motivo de sua escritura foi denunciar a escravidão e todas as violências advindas destas. Trata-se de uma denúncia.

 Estamos falando de um romance romântico, mas há momentos em que o Eixo 2, se sobrepõe-se ao Eixo 1. Pois existe momentos em que os problemas abolicionistas se tornam barreira para a narrativa romântica, visto que a autora traz à luz instrumentos de tortura dos negros, dos escravos.

   Personagens

O romance romântico está dividido em 20 capítulos, 1 prólogo e 1 epílogo.

RESUMO DE ÚRSULA (1859), de Maria Firmino dos Reis


No capítulo 1 temos uma descrição sobre a paisagem brasileira, natureza idealizada, visão maravilhada do nosso território. Como é típico dos romances românticos. Pela primeira vez, nós brasileiros somos um país, deixamos de colonizados.

O cavaleiro Tancredo que sofre um acidente de cavalo e vai ao chão desmaiado é socorrido pelo escravo Túlio. Temos nesta cena dois homens iguais e não um branco e escravo. Há uma descoisa da figura do escravo, Túlio até surge como superior, pois olha para Tancredo de cima para baixo. Túlio pega Tancredo e leva para a casa mais próxima, que era a casa de Dona Luiza e Úrsula.

Vemos aqui personagens femininas que moram sozinhas é uma denúncia do patriarcalismo, escravidão e violência que criam um sistema de opressão das mulheres no Brasil do século XIX.

A Úrsula é uma Sonhadora pura, que vai sofrer violência de Fernando que é apaixonado ou melhor é obcecado pela protagonista, dona Luiza é um ser sofredor, mãe de Tancredo representa a mulher submissa, sofre muita violência psicológica e Suzana mulher guerreira, mas em pleno século XIX, nada é fácil na vida dessas mulheres. Temos um quadro no qual está o desenho do que é ser mulher no Brasil no século XIX.

Tancredo é cuidado do Túlio e Úrsula com o tempo o mancebo vai melhorando, e vai se apaixonando do Úrsula e é correspondido por ela. E vai nascendo uma grande amizade entre Tancredo e Túlio. Durante o período de enfermidade Tancredo tem alucinações chamando uma Adelaide, o que deixa Úrsula apreensiva.

Quando Tancredo se recupera e se declara para Úrsula e em um flashback conta para a amada quem é Adelaide.

Uma prima da mãe de Tancredo foi morar na casa da família de Tancredo. E ele se apaixona por essa prima. Mas o seu pai o manda trabalhar em outra província, longe da prima. Quando Tancredo volta para casa, descobre seu próprio pai estava casado com Adelaide, que havia ficado viúvo. Tancredo fica muito triste e rompe com o pai o acusando de maltratar a mãe, e esse foi o motivo da morte da sua mãe.

Porém, Úrsula assegura que com ela tudo vai ser diferente, após essa conversa com Úrsula, Tancredo pede a dona Luiza para namorar à Úrsula. Dona Luiza fica receosa em aceitar o romance, pois Úrsula era pobre, era ninguém em comparação a Tancredo que era rico e poderoso. Mas Tancredo prova para a futura sogra que tem bom coração e dona Luiza acaba aceitando o romance.

Nasce uma amizade muito forte entre Túlio e Tancredo. Tancredo acaba que comprando Túlio de seu dono e dando-lhe a alforria. Túlio fica feliz e corre para contar a novidade para a mãe Susana, que o adverte. Túlio, tens certeza de que és um homem livre. Pense e tenha cuidado para gente como nós, nada é fácil.

É neste momento (capítulo 9) que a Susana conta para Túlio sua história, sua trajetória, era casada, tinha uma e que foi capturada na África e trazida como escrava para o Brasil em um navio negreiro.

Essa diáspora traz à luz de como tiram a aura do escravo, o tornando um objeto, mas Susana tem sua arma secreta, ela tem memória. A memória é algo humano e complexo, mas todos temos a nossa história, as nossas recordações, é que nos faz humanos.

Nesse momento a narradora sai da terceira pessoa. Esse capítulo é narrado em primeira pessoa. Temos a sensação de que a voz é da própria Maria Firmina dos Reis colocado na boca de Susana. Há mais um ineditismo nesse capítulo. Trata-se de um escravo dialogando com outro escravo, isso era inédito em nossa literatura.

Tancredo antes do matrimônio com Úrsula, precisa fazer uma viagem. Nessa viagem ele leva seu amigo e fiel escudeiro Túlio. Após relacionamento com Tancredo, Úrsula criou o hábito de pensar no meio da mata, à sombra de um jatobá. Em desses dias Fernando B. a ver e acaba se apaixonado, criando uma obsessão por pela amada de Tancredo.

Úrsula não conhece Fernando, mas ele a conhece. Trata-se do irmão de Luiza, então tio de Úrsula. Úrsula não tinha contato com esse tio, por isso não reconheceu.

Fernando nunca se deu bem com Paulo B., pai de Úrsula. Verdade é que Paulo B não lidava bem com dinheiro. Paulo é responsável pela perda da fortuna da família. E acaba sendo assassinado por Fernando. Este acaba pagando as dívidas da família de Úrsula. Úrsula, Luiza ficam sem nada. Restando-lhe somente um casebre onde elas moram.

Por causa dessa paixão Fernando vai mover céus e infernos para ficar com Úrsula. Fernando acaba indo até conversar com dona Luiza. Dona Luiza fica desesperada, logo ela se encontra muito doente, acaba que falecendo, mas aconselha Úrsula a fugir.

No enterro de Dona Luiza, Úrsula passa mau e acaba sendo encontrada desmaiada em cima do túmulo da mãe. Esse momento marca a volta de Tancredo e Túlio ao romance. Tancredo a hospeda em um convento, até o casamento.

No bando de Fernado tem um padre, que sabe o jeito que Fernado trata os escravos, do quanto ele é perverso e brutal. Aqui temos uma crítica ao catolicismo. Na busca por Úrsula, Fernando esbraveja, sente ciúmes, inveja de Tancredo. Há momentos que a narradora o compara a Otelo, de Shakespeare.

Úrsula no convento, está segura? Mais um menos, mas o casal casa-se logo, mas antes de consumar o casamento. Pois Tancredo, Túlio e Úrsula são atacados pelo bando de Fernado.

Fernado mata Tancredo, Túlio é morto pelo restante do banco. Úrsula é capturada. Mas a maldade de Fernando acaba que recendo punição divina. Diante de tanta dor, tantas perdas: morte da mãe, assistiu ao assassinato de Tancredo e Túlio.

Úrsula acaba enlouquecendo de dor, está dor a consome, a levando até a morte. Com a morte de Úrsula, Fernando aprende uma lição. Que o amor não se conquista com força e nem brutalidades. Tudo à moda de um romance romântico.

Após essa cena temos o epílogo. Entra na história Frei Luiz de Santa Úrsula um homem que vai até o convento, a fim de rever seus pecados. A priori ele tem dificuldades em assumir seus erros e pecados. Mas consegue pedir perdão, assim espera obter o perdão quando for para o descanso eterno.

Úrsula (1859), de Maria Firmina dos Reis é um livro bem escrito, possui arquitetura e desenvolvimento excelentes. É um romance que merece ser lido, discutido, é um livro necessário para conhecermos a nossa história, a origem que originou tantos preconceitos, que até hoje, ainda não foram superados, muito porque não discutimos, a negritude, preferimos varrer esses problemas para debaixo do tapete. Enfim, estamos em frente a um clássico da nossa literatura verde e amarela.

Leia:

Úrsula, de Maria Firmina dos Reis

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Lembre-se: O Poeta está certo. Os outros é que estão errados.