30/01/25

Cartas à Rainha Louca, de Maria Valéria Rezende (2019)

       

     Em 1789, no século XVIII, Isabel, uma mulher branca, porém pobre, que aprendeu a ler na clandestinidade e por ser acompanhante da filha do patrão, Blandina. Está presa, enclausurada, em um Convento em Olinda, Recife e resolve escrever uma série de cartas direcionada à Rainha de Portugal Maria I, contando sua história e sua amada Blandina.
    Isso mesmo, hoje, vamos falar sobre o livro "Cartas à Rainha Louca" (2019), de Maria Valéria Rezende. Um romance epistolar (escrito em formato de cartas) que aborda as desigualdades de gênero e situações as quais as mulheres estavam sujeitas a passar na época do Brasil colônia.

   Li esse livro em 2024, por causa do Grupo de Pesquisa Grupo de Estudos Literatura, Mulheres e Escrita de Si-Gelimes que participo e foi uma surpresa, pois ainda não conhecia a escrita da Maria Valéria Rezende.

  "Cartas à Rainha Louca" é um livro brasileiro, de Maria Valéria Rezende (2019) e nos apresenta a Isabel das Santas Virgens, uma mulher que escreve de uma cela do Convento, onde foi injustamente enclausurada. As cartas são destinadas à Rainha Maria I, conhecida como a Rainha louca. 

 Nesta série de cartas, que começa em 1789 e termina 1792, Isabel conta toda a sua história e tudo que viveu e porque está presa em um Convento aguardando seu julgamento que será na Corte de Portugal. 

 Assim, Isabel crítica a sociedade brasileira, sobretudo a situação imposta as mulheres que foge aos padrões impostos a elas. Faz um apelo para que a Rainha olhe a situação por seus súditos, especialmente as súditas que estão na colônia brasileira. 

 Isabel é uma mulher branca, filha de funcionários de engenho, por isso pobre, cai nas graças da mãe de Blandina e passa a ser dama de companhia de Blandina, assim, passa a viver na casa grande, lá consegue aprender a ler e a escrever, com um padre que cuidava da Educação Formal de Blandina. Isso será muito importante no futuro quando Isabel precisará proteger Blandina e se proteger.

Já Blandina foi criada para fazer um bom casamento, coisa que Isabel não tinha esperança. Sua esperança era quando Blandina casasse a levaria junto. Blandina cai na lábia do sedutor Diogo Lourenço, acaba grávida, o pai a manda para uma fazenda distante para esconder a gravidez da sociedade hipócrita da época.

Quando a criança nasce, ele enclausura Blandina no Convento do Desterro de Salvador, junto com duas escravas. Isabel não vai junto. Mas. Pela primeira vez, ela usa todo seu aprendizado de saber ler e escrever, algo raro, em uma colônia, onde praticamente todos eram analfabetos, ainda mais sendo uma mulher, para ir para o convento cuidar de Blandina.

Assim Isabel falsifica a assinatura do pai de Blandina em uma carta. E lá aprende as liturgias de uma vida religiosa. Quando Blandina, morre Isabel é convidada a sair do convento. Isabel faz doação das duas escravas de Blandina para o Convento e segue sua vida, indo para Vila Rica, em Minas Gerais. 

Lá Isabel de veste de homem para ser aceita na sociedade dominada por eles. E com isso consegue sobreviver falsificando documentos para quem lhe pagasse. Isabel é descoberta e é assaltada e abandonada pelo bando. É quando ela decide se desfasar de beata e funda uma casa para receber mulheres como ela, branca, mas pobre, por isso solteira. Sendo denunciada por desobediência à Coroa Portuguesa, porque não podia criar um convento clandestino para freiras. 

Por isso, é presa em uma cela para ser levada à Portugal para ser julgada pelo seu crime. É nesta cela que Isabel escreve uma série de quartas cartas para Maria I, a Rainha Louca de Portugal. 

 Essas histórias contadas nas “Cartas à Rainha Louca” passaram pelos principais aspectos de um Brasil, ainda colônia de Portugal: tais como: Colonização, Monarquia, Patriarcado, Racismo, Religião, Escravidão, Economia Essas cartas são uma janela para compreendermos a própria história de Isabel e das mulheres no Brasil em uma personagem que carrega em suas palavras uma mistura de coragem, dor e esperança. 

A narrativa é um emaranhado de memórias, confissões e denúncias sociais, a cada página. Embora o enredo esteja centrado nas cartas de Isabel, a história do livro vai muito além das paredes do convento. Maria Valéria Rezende através dos lábios de Isabel usa o recurso de rasura como metodologia de narração, quando esta faz uma crítica muito exagerada, é como-se a palavra fugisse ao controle, de quem está escrevendo, sendo assim, está precisa ser censurada, calada, rasurada. 

Para fazer uma crítica contundente às desigualdades, sociais e de gênero e às estruturas sociais como patriarcado, Monarquia, Religião que, ainda hoje, aprisionam mulheres de diversas formas. 

Maria Valéria Rezende nos lembra que o silenciamento é uma forma de violência, e que a escrita seja em cartas, livros ou redes sociais é uma forma de resistência.

"O silêncio é cúmplice do poder, e a palavra é sua maior rival." 

Cartas à Rainha Louca é um livro que não se limita a contar uma história; ele nos provoca, nos desconforta e nos inspira. Maria Valéria Rezende constrói uma narrativa que é, ao mesmo tempo, um retrato histórico e um apelo por mudança.

Leia:

Cartas à Rainha Louca, de Maria Valéria Rezende


Cartas à rainha louca em vídeo

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