26/04/24

Impressões sobre o Conto “Miopia Progressiva”:

 

   O livro de contos Felicidade Clandestina (1971) de Clarice de Lispector. A referida obra composta por 25 contos e faz parte dos últimos livros que Clarice Lispector publicou em vida.

       Trata-se de uma obra muito marcada pelas memórias de Clarice menina, ainda ou talvez em Recife, como nos contos “Restos do carnaval, Felicidade Clandestina, Cem anos de perdão”, Clarice adulta e mãe como nos contos “Esperança, Macaco, Come, meu filho”.

    Clarice continua com sua hermenêutica marcante como nos contos “O grande passeio, Repartição dos pães, o ovo e a galinha, perdoando a Deus” entre outros contos.

MIOPIA PROGRESSIVA

     Conta história da miopia de um menino que era considerado inteligente dentro do seu ninho familiar, onde todos o achava muito inteligente. Por qualquer comentário que fizesse sobre qualquer coisa, a mais boba que fosse.

    Na entrevista a Júlio Lerner, da tv Cultura, Clarice diz “tudo que eu digo, a maior bobagem, então é considerado como uma coisa linda ou coisa boba, tudo na base de ser escritora”.

   Parece que o menino míope, deste conto, sob o rótulo de “ser inteligente” vivia envolto de uma casca que o protegia do mundo real. Do mundo, onde temos que lidar com o contrário do que pensamos.

   Quando este descobre que vai passar um dia na casa de uma prima (fora do seu ninho habitual). Passa a pensar com todo o poder que “tinha de suportar as confusões”, em um universo de possibilidades como iria se comportar, pois no novo ninho teria a liberdade para tentar ser outra pessoa, seria engraçado, iria no banheiro o dia todo, iria falar algo inteligente e a prima iria mimá-lo durante todo o dia, porque a prima não tinha filhos, mas desejava tê-los por isso ela iria mimá-lo, amá-lo.

    Mas quando chegou na casa da prima, viu toda a certeza que tinha, de que iria ser amado, se desfazer na sua frente.

    A prima possuía um dente de ouro, além disso, o deixou sozinho brincando e foi cuidar dos afazeres da casa. Esta ação o desequilibra, não estava preparado para ser ignorado, pelo contrário, sempre fora o centro das atenções de todos no seu ninho.

    Então, pensou: - vou falar algo inteligente e começou a comentar sobre uma plantinha e a prima respondia “pois é”, “pois é.” Essa atitude o desconcertou.

    Este novo universo de confusões era demais para ele suportar. Não estava preparado e por isso, pela primeira vez na vida não sabia o que fazer.

    Esta experiência o fez romper a casca de ovo na qual estava envolvido. Aprendeu sobre uma rara instabilidade, a instabilidade do desejo irrealizável, inatingível, a prima queria ter filhos, mais não os teve.

    Pela primeira vez o menino sentiu atração pela falta de moderação e aprendeu a amar a paixão pela incerteza, pelas não possibilidades.

    Sua miopia começa a ser curada, pois ele passa a enxergar que a prima o amava, não por fazer “coisas inteligentes”, mas sim pelo ser, que ele era. 

   “A partir de então que pegou o hábito pelo resto da vida: cada vez que a confusão aumentava e ele enxergava pouco, tirava os óculos sob o pretexto de limpá-los e, sem óculos, fitava o interlocutor com uma fixidez reverberada de cego.

   É como se o menino tivesse se curado da “Miopia Progressiva”, pois quando estava no meio, onde, qualquer coisa que ele falasse o achavam inteligente, ele tirava os óculos para ver a realidade real, sem as lentes dos elogios por conveniências. 

    Voltando a entrevista dada por Clarice a Júlio Lerner, Tv Cultura (1977), Clarice diz que “o fato de mim considerarem escritora mim isola”, é como quisessem que ela usasse os óculos da miopia, e por isso ela não o aceitava, o tirando sempre para fazer a limpeza. Para assim conseguir ver o mundo real, e fugir do rótulo de ser escritora, para continuar sendo livre e ver o mundo como este é.

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Lembre-se: O Poeta está certo. Os outros é que estão errados.